debruçada sobre o mar

debruçada sobre o mar

segunda-feira, 14 de março de 2011

Na noite dos cinquenta anos do massacre iniciado a 15 de Março de 1961, presto uma humilde homenagem às vítimas. As directas, as que tombaram nesses dias e as dos anos seguintes, civis e militares. Num sentido silêncio, curvo-me.


Lá ao fundo
Naquela picada, junto ao capim vermelho…
Está um corpo.
Vazio
Sozinho.

Parou de viver.
Parou de sonhar, de ter medo.
Tornou-se memória querida.

Foi hoje pela madrugada.
Amanheceu ódio e colheu as vidas.

Agora já passou o eco da dor.
A lâmina brilhou. Tudo se sobressaltou.
Mas agora só se ouve o vento suave
Que vem recolher as mágoas.


Tudo serenou dorido e cansado
Só ninguém veio buscar o corpo
Lá ao fundo, junto ao capim vermelho
Naquela picada… inútil.
Memória esquecida.


Mais ao fundo, depois da curva há mais um…
Junto a outro.
No terreiro em frente à casa, outro…
E dentro da casa…
Só o vazio.
A cama desfeita, a ventoinha ligada.
Na estante os livros que não serão lidos
O copo por beber.

A cortina a baloiçar.


Mais ao longe o café por apanhar.


Céu de chumbo e um infinito silêncio.