debruçada sobre o mar

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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O preço da diferença

A constituição da republica , no capitulo dos direitos liberdades e garantias defende, certamente não nesta redacção, pelo menos nos princípios a liberdade de ser diferente. Não sei se no mesmo capítulo, alínea, ponto (ou virgula) a possibilidade que tem que ser respeitada de sermos diferentes, escolhermos coisas que a maioria não escolhe e não sermos incomodados, prejudicados por isso. Fica bem. É sério (especialmente se for cumprido). É civilizado.

Não sei se está escrito (certamente que sim) em algum lado, por algum vulto da história humana na área do pensamento e desenvolvimento humano, que cada escolha implica prescindir de algumas coisa.

É isso mesmo que alguns diferentes, não fazem. Ou não querem fazer. E chegam mesmo a lutar para que não aconteça.

Se sou diferente, não quero sujeitar-me a convenções…é suposto então que prescinda das condições (também elas convenções) que elas me garantem.

Eu pago impostos. (sou obrigado e se não fosse, certamente não nesta quantidade, mas estaria disposto a pagar na mesma). Logo tenho direito a, entre outros a protecção policial, assistência médica, liberdade de circulação no meu pais. Estou recenseado, como é de lei (uma convenção legal), logo posso (e devo) votar. E “vai por ai fora” sujeito-me a uma convenção, escolho, sujeitar-me… logo há coisa que prescindo.

Não é portanto lógico, que se eu não estiver disponível, para me sujeitar a uma convenção social como o casamento, queira ter todos os direitos que ele me dá. Não é lógico, não é honesto, não é coerente.

Não sei, nem me vou dar ao trabalho de saber as razões apresentadas (assumidas e as outras) do presidente da república para vetar o diploma das uniões de facto.

Mas, se não se está disponível para se submeter a convenções sociais (isto é algo que a sociedade determinou explicitamente ou implicitamente), então deverá dispensar as vantagens/contrapartidas/consequências dessa mesma sociedade, a que não se pode pertencer, sem pertencer.

Quem casa fica abrangido por uma série de obrigações e direitos. Se prescindo, se recuso esse incomodo do burocrático, se duas pessoas não necessitam de um papel para estarem junto, não vão querer que um outro papel lhes confira uma série de condições.
Se quiser é incoerente, que é uma forma delicada de chamar desonesto. Mas é. É isso mesmo.

O mesmo se aplica aos “casamentos” (ou outro nome que der mais jeito) gay. O direito à diferença (visto que não é doença, é escolha) comporta o gosto, prazer, satisfação interior/intelectual. E alguns limites…