debruçada sobre o mar

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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Dr. António Costa, ligue ao Teixeira dos Santos . De Henrique Raposo in Expresso.

Li e gostei. transcrevo na integra:

De  no Expresso

António Costa voltou a envergar a camisola da Constituição para fazer beicinho ao eleitorado de pensionistas e funcionários públicos. Comigo a Constituição é para cumprir, diz pressuroso. Tradução? Todos os cortes nas pensões mais altas e nos salários da função pública são para repor. Eu só não entendo como é que o Dr. Costa pretende fazer isto. Como? Bom, como já não podemos imprimir dinheiro na Casa da Moeda e como será cada vez mais difícil emitir dívida, Costa só tem um caminho disponível: aumentar impostos e contribuições da segurança social para manter tudo como estava na despesa.
Os socialistas portugueses (e não só) estavam habituados a fazer socialismo caseiro com o capitalismo global. Para subir salários aos funcionários públicos, para conceder cálculos de pensões ultra-generosos, o PS (e o PSD) recorria aos tais mercados da dívida, ao tal capitalismo de casino, aos tais bancos malvados. A crise começou aqui. Já ninguém se lembra? Liguem ao Teixeira dos Santos, que ele explica. Naquele dia em que José Sócrates saiu amuado do parlamento, Teixeira dos Santos fez o discurso mais importante dos últimos anos no campo socialista. De forma clara, o então ministro das Finanças afirmou que o modelo de governação assente na dívida morreu e que os socialistas precisam uma nova forma de governar. Cadê ela? Cadê a nova forma de governação?
O que impressiona no estado actual do PS é este desprezo pela realidade que está codificada há anos. António Costa fala como se ainda estivesse no pré-2008 ou pré-2011. Pior: às vezes, o seu discurso parece pressupor a existência de uma Constituição socialista a imprimir dinheiro como antigamente. Das duas, uma: ou ele não sabe o que tem à espera, ou está deliberadamente a mentir. Não, não me venham com o lero-lero do animal político que esconde o jogo por razões tácticas. No actual momento da Europa e do país, a politiquinha habitual do esconde-esconde não é outra coisa senão mentir às pessoas.