debruçada sobre o mar

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terça-feira, 10 de novembro de 2009

Luanda Angola Portugal,


Hoje faz anos que pelas cinco e tal da tarde, eu, a minha mãe e as minhas irmãs nos deslocamos ao Palácio de Sua Exª o Sr. Governador Geral para vermos uma última vez a bandeira nacional encarnada e verde com as quinas hasteada no mastro principal da Província.

Estava um fim de tarde típico de Luanda. Com aquela iluminação dourada e uma brisa suave.

Fomos para um último acto de sentimento de pertença patriótica.

Mas ironicamente a bandeira já tinha sido retirada (vim a saber muitos anos mais tarde por volta das duas, para evitar confusão…qual? Num país que estava em guerra). Ironia porque aquele dia era a véspera da “independência”. Ironia porque aquela data não significava nada. Era nada. Ser nessa noite ou noutra qualquer era indiferente. O País estava esventrado a Província incendiada e o povo estilhaçado. Podem chamar-lhe independência. Podem mesmo chamar-lhe o que quiserem. Nunca será nada do que lhe quiserem nomear, se não lhe chamarem …morte.

Lembro-me e ainda oiço o silêncio triste que se fez depois da decepção em todo o regresso a casa.

(Também me lembro da última vez que ouvi o hino nacional, dias antes e de ter chorado. Da minha mãe me ter falado da possibilidade de uma vez eu crescido poder vir à Metrópole matar saudades de Portugal.)

Luanda Angola Portugal, continua e continuará a ser o meu local de nascimento e o meu endereço emocional.